O MOVIMENTO CÍNICO

                           O MOVIMENTO CÍNICO

Sócrates teve, como discípulo, Antístenes, que, por sua vez, teve como discípulo, Diógenes de Sínope, a figura mais marcante do movimento cínicopor romper radicalmente com o mundo, pois ele considerava que o estado de natureza (physis), tal qual se pode reconhecer no comportamento do animal ou da criança, é superior às convenções da civilização (nómos).
O termo cinismo deriva da palavra grega kynikos, a forma adjetiva dekynon, que significa cão, animal com o qual Diógenes era visto sempre acompanhado e que ele considerava como modelo de vida: simples, honesto, sem constrangimento, nem ansiedade.
O cínico não se ocupava absolutamente com as conveniências sociais e a opinião, desprezando o dinheiro, não procurando nenhuma posição estável na vida, possuindo apenas o estritamente necessário para sua sobrevivência. Sem casa, sem cidade, sem pátria, miserável, errante, rejeitando as condições indispensáveis da vida em sociedade, a propriedade, o governo, a política, o cínicoexprimia-se com provocadora liberdade de expressão, sem temer as autoridades, como demonstra a famosa cena em que, diante de Alexandre, que lhe fazia sombra e perguntava se precisava de alguma ajuda, Diógenes respondeu apenas dizendo: "Não me tires o que não me podes dar".
A filosofia cínica é unicamente uma escolha de vida, a escolha da liberdade, ou da total independência (autarkeia) das necessidades inúteis, a recusa do luxo e da vaidade (typos). A fim de adquirir a liberdade, a independência, a força interior, a ausência de cuidados, a tranquilidade de uma alma capaz de se adaptar a todas as circunstâncias, e considerando que os artifícios e as comodidades da civilização enfraquecem o corpo e o espírito, o cínico fazia, de forma refletida, o exercício e esforço de suportar a fome, a sede, as intempéries.
Na escola cínica havia relação entre mestre e discípulo, no entanto não havia ensino escolar, ainda que houvesse uma atividade literária. O cinismo era uma filosofia na qual o discurso filosófico era reduzido ao mínimo, como demonstra a célebre cena em que, diante de uma pessoa que afirmava que o movimento não existia, Diógenes contentou-se em ficar em pé e andar.
Diógenes, ao denunciar, por seus ataques mordazes e por seu modo de vida, os vícios e os erros, incitou as pessoas, tal como Sócrates, à reflexão, como demonstram muito bem as suas perambulações pelas ruas,durante o dia, carregando uma lamparina e alegando estar procurando um homem honesto.

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